sexta-feira, 30 de abril de 2010

Homicídios totais ou proporcionais?

No texto que escrevi anteriormente sobre homicídios no Brasil, uso o número de assassinatos ocorridos em cada estado e não uma proporção, como homicídios por 100.000 habitantes, por exemplo. Fui questionado sobre isso e me "alertaram" que o que realmente importa é o número proporcional. Seria algo como: os homicídios cresceram, mas a população também cresceu, logo a coisa pode não estar tão feia quanto parece. Este é o típico argumento que se usa para desviar o foco do problema e acusar o diagnóstico. A população cresceu em dez anos? Todos sabemos que sim. Este fato, por si, torna menos escandaloso o fato de que são assassinadas perto de 50.000 pessoas todos os anos? Qualquer pessoa séria saberá que não. Ou então, a solução para questões de segurança seria aumentar a população, mantendo, evidentemente, o nível de violência , ao invés de diminuir a violência.

Para evidenciar o tamanho do problema e para que não se possa usar argumentos relativistas, digamos assim, como o que vai acima, fiz as mesmas contas considerando homicídios como proporção da população, no caso a cada 100.000 habitantes. Fui à mesma fonte de que se valeu o Instituto Sangari (DataSUS, http://www.datasus.gov.br/) e obtive o número usado no estudo para a população de cada estado em cada ano do período, dividi o número de homicídios no período pela população total de cada estado e multipliquei o resultado por 100.000 e obtive, assim, a taxa de homicídios por 100.000 habitantes. Agreguei os dados de todos os estados exceto São Paulo e comparei com os dados deste estado.

Entre 1997 e 2007

  • a taxa de homicídios de todos os estados exceto São Paulo passou de 22,4 para 28,1, um crescimento de 25,5%;
  • a taxa de homicídios de São Paulo passou de 36,1 para 15,0, uma diminuição de 58,6%;
  • a taxa nacional de homicídios passou de 25,4 para 25,2, uma diminuição de 0,7%.

Os estados do Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e mais o Distrito Federal diminuíram suas taxas de homicídios, enquanto nos outros estados houve aumento. Apenas no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Mato Grosso do Sul houve efetivamente menos mortes em 2007 do que em 1997. Tendência perceptível de queda, apenas em São Paulo e Rio de Janeiro.

A variação, entre 1997 e 2007, da taxa de homicídios por região foi:

  • no Norte um aumento de 49,7%;
  • no Nordeste um aumento de 53,3%;
  • no Sudeste uma diminuição de 32,7% (SP: queda de 58,6%; RJ: queda de 31,7%);
  • no Sul um aumento de 40,6%; e
  • no Centro-Oeste um aumento de 6,6%.

Os números são escandalosos. Não há relativização possível sobre estes dados: a violência tem crescido constante e desmesuradamente nos últimos anos. Seja em números absolutos, seja em proporções, seja como for, o Brasil é um dos países mais violentos do mundo e tem uma necessidade urgente de reverter esta situação. Não existe e nunca existirá progresso sem paz. Canta-se a glória de um "novo Brasil", mas que novo Brasil é este onde o bem-estar é medido pela capacidade de consumo (e esta muito ilusória, diga-se) e não pela qualidade de vida da população? Já passou da hora pararmos de tapar o sol com a peneira. É preciso levar efetivamente a sério esta questão.

Abaixo gráfico e tabelas com informações sobre as taxas de homicídios no Brasil (clique para ampliar):

Um comentário:

Petterson Molina Vale disse...

Moacyr, eu não imaginei que o dado por 100.000 habitantes fosse mudar o quadro. Concordo com a análise que o Reinaldo e você fizeram (nesse ponto, mas não no de que inexiste correlação entre pobreza e criminalidade). Mas conclusões robustas só podem ser tiradas do dado por 100.000 habitantes (ou por 10.000, 5.000, quanto seja).