sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Por que o aborto é condenável

Navegando por aí, acabei conhecendo o blog Imaginalismo (imaginalismo.blogspot.com) e lá encontrei um texto interessante de título "Aborto NÃO tem nada a ver com religião". Nele a autora sintetiza bem os argumentos de quem apóia o aborto e, analisando-os, defende que não são válidos - ou não válidos o suficiente - para justificá-lo; raciocínio com o qual eu concordo totalmente.

Mesmo concordando com a autora, acredito que pensamos de maneira igual por motivos diferentes. Ou talvez pelos mesmos motivos, mas com diferentes profundidades nos pensamentos de cada um.

Fiz um comentário no blog que refaço aqui de maneira mais completa.

Muitos que defendem o aborto dizem que este seria um "direito natural" da mulher. Se pensarmos apenas por este prisma, ou seja, do ponto de vista do "direito natural", de fato a mulher tem esta liberdade: se uma mulher quiser, em sua casa e longe das vistas de outras pessoas, abortar, quem a impedirá? Do mesmo modo que ninguém impedirá uma pessoa de matar uma outra, se esta primeira agir sorrateiramente.

O conceito de direito natural usado aqui está ligado à idéia de liberdade. Liberdade irrestrita (parece pleonasmo, mas não é) seria o direito natural de todo homem. Todo homem teria direito de fazer todas as coisas; logo, um homem poderia matar qualquer outro, mas, como conseqüência, se arriscaria a ser morto por qualquer outro homem. A essência por trás deste conceito é simples: se não existe uma lei superior a todos os homens e que a todos governe, então cada homem define o que é bom e o que não é; todas as coisas serão lícitas e legítimas.

De modo semelhante, no que tange à idéia de "natural", muitos que combatem o aborto dizem que ele vai contra a natureza. Advogam, pois, o contrário dos primeiros: a mulher não pode abortar porque isso não é natural.

Nos dois casos, o que não lhes ocorre é que o Homem não é exatamente um ser natural. Se fossêmos estritamente naturais, viveríamos em bandos, moraríamos em cavernas ou seríamos nômades. Nós somos seres sociais e, conseqüentemente, morais. O aborto não é condenável ou aceitável por ser natural ou contrário à natureza. Ele é aceitável ou não de acordo com nossa hegemonia moral.

O nosso conceito atual de liberdade não se confunde com aquele do direito natural. Antes nossa liberdade atual está limitada, como um rio que não consegue ultrapassar suas margens. Temos pontos onde nossa liberdade, nosso direito natural, cessa e dá lugar a coisas que regulam nossas relações, a saber: a moralidade e o Direito. 

Também nossa vida moderna não é guiada pelo que é natural. Aliás, se assim fosse, seria mais fácil justificar o aborto do que combatê-lo: não é difícil encontrar exemplos na natureza de animais que abandonam suas crias ou mesmo que forçam o aborto de fêmeas cuja gravidez poria em risco a sobrevivência do grupo. Não existe moralidade na natureza.

Logo, o aborto não se nos apresenta como uma questão natural, mas moral. Nisso, e estritamente nisso, reside minha crítica à defesa desta prática. Quem defende a idéia de aborto faz uma apologia ao relativismo moral, ou seja, algumas coisas são aceitáveis na medida das conveniências de um grupo. A se supor isso como verdade, poderíamos um dia defender o extermínio de deficientes mentais com a mesma facilidade que defendemos o aborto. O que define o que pode ser descartado e o que não pode? Quem me garante que um dia a hegemonia moral não dirá que eu possa ser descartado?

Alguns dirão que não se trata de exterminar ninguém, uma vez que o "material descartado" não constituiria ainda uma pessoa. Aqui uso o mesmo argumento da autora do Imaginalismo: e quem define o que constitui uma pessoa? Alguns dirão que a resposta cabe à Ciência, mas se enganam, pois esta também é uma questão moral. Vejam que não foi difícil aos nazistas definir que judeus não eram exatamente seres humanos.

Por tudo o que apresento acima, entendo que, ao não defender o aborto, eu defendo a minha própria vida. Se relativizarmos nossa moral, que é eficiente no que tange ao direito à vida, abriremos brechas para que um dia tal relativização se volte contra nós mesmos. Moralmente eu escolho que todas as vidas devem ser preservadas ao máximo e da melhor maneira possível, inclusive a minha.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O desempenho do GATE

Vou dar uma de preguiçoso aqui. Não vou escrever, mas copiar o texto de alguém; um texto que eu queria ter escrito: "A IMPRENSA TEM O DEVER DE NOTICIAR O DESEMPENHO DO GATE. E ELE ESTÁ AQUI", do blog de Reinaldo Azevedo. Minha intenção, na verdade, era dar aqui o link do texto para que vocês pudessem acessá-lo diretamente da fonte, mas o mecanismo de publicação do blog dele não está funcionando corretamente. Vai, então, no copiar e colar mesmo.

 

A IMPRENSA TEM O DEVER DE NOTICIAR O DESEMPENHO DO GATE. E ELE ESTÁ AQUI (Reinaldo Azevedo, www.reinaldoazevedo.com.br)

Olhem aqui, eu estou entre aqueles que acreditam que o GATE também cometeu erros na operação que resultou na morte da garota Eloá: o mais óbvio, parece-me, foi ter, quando menos, criado as condições para que a outra garota, Nayara, voltasse à cena do cativeiro. Ainda que a equipe tenha considerado que ela era uma interlocutora útil, os devidos cuidados deveriam ter sido tomados para que não voltasse ao cativeiro. De todo modo, esse episódio não teve influência no desfecho trágico, convenha-se. Sim, que se apontem os erros. Mas tratar o GATE, agora, como um bando de trapalhões e incompetentes é injusto e, lamento dizer, só reforça a boca torta pelo uso do cachimbo. A imprensa não gosta da Polícia — isso é histórico. A simpatia pode crescer um pouco quando ela se armam e se junta a sindicalistas para fazer baderna, “companheiro”... Será mesmo o GATE tão incompetente? Em quantos casos de seqüestros dessa natureza a equipe já se envolveu? Qual é o seu saldo? É positivo? É negativo? Quais são os números? Pois eu tentei saber.

Sabem quantos foram os reféns mortos em operações mediadas pelo GATE de 1998 até hoje? APENAS DOIS! Em 2006, um marceneiro prendeu em sua loja a amante e a mulher. Acabou libertando a segunda, matou a primeira e se suicidou. Antes que a polícia pudesse fazer qualquer coisa. E temos, agora, o caso Eloá.

Só neste ano, o GATE atendeu 18 ocorrências — em 12 delas, os seqüestradores eram pessoas emocionalmente perturbadas; os demais eram criminosos comuns. Vinte e cinco seqüestradores foram presos (incluindo Lindemberg), e dois se suicidaram. NADA MENOS DE 47 REFÉNS FORAM LIBERADOS ILESOS SÓ NESTE ANO.

Numa entrevista ao Fantástico ontem, um brasileiro apresentado como instrutor de uma unidade da SWAT, apontou os muitos erros do GATE e chegou a dizer que “sente vergonha” dessa polícia. E indicou ali, depois do fato, claro, o que considerava os muitos procedimentos que deveriam ter sido adotados.

Não, não temos que endossar ou desculpar os eventuais erros do GATE. É preciso apontá-los — até para que sejam corrigidos, tomando o cuidado para não confundir filmes sobre a SWAT com operações da SWAT real. Será mesmo que os índices das unidades da polícia americana são superiores aos do GATE? Aposto que não.

Corrijam-se os erros. Mas, como brasileiro e paulista, eu tenho ORGULHO do desempenho do GATE nos últimos 10 anos, e não vergonha.

Não as matem

O ex-comandante do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) do Rio de Janeiro, que também é sociólogo, Rodrigo Pimentel, critica, em entrevista ao portal Terra, duramente a atuação da imprensa no caso do seqüestro em Santo André.

Mas o que me chamou a atenção foi o parágrafo final da entrevista, sintetizado na frase final: "homens no Brasil matam suas companheiras com uma freqüência muito grande". Me fez lembrar de Lima Barreto. Há quase cem anos ele já escrevia sobre isso. Se vê que não avançamos tanto quanto imaginamos. Segue abaixo uma crônica que demonstra o porquê de este ser um dos maiores brasileiros de todos os tempos.

 

Não as Matem (Lima Barreto)

Esse rapaz que, em Deodoro, quis matar a ex-noiva e suicidou-se em seguida, é um sintoma da revivescência de um sentimento que parecia ter morrido no coração dos homens: o domínio, quand même [nota: apesar de tudo, ainda que], sobre a mulher.

O caso não é único. Não há muito tempo, em dias de carnaval, um rapaz atirou sobre a ex-noiva, lá pelas bandas do Estácio, matando-se em seguida. A moça com a bala na espinha, veio morrer, dias após, entre sofrimentos atrozes.

Um outro, também, pelo carnaval, ali pelas bandas do ex-futuro Hotel Monumental, que substituiu com montões de pedras o vetusto convento da Ajuda, alvejou a sua ex-noiva e matou-a.

Todos esses senhores parece que não sabem o que é a vontade dos outros.

Eles se julgam com o direito de impor o seu amor ou o seu desejo a quem não os quer. Não sei se se julgam muito diferentes dos ladrões à mão armada; mas o certo é que estes não nos arrebatam senão o dinheiro, enquanto esses tais noivos assassinos querem tudo que é de mais sagrado em outro ente, de pistola na mão.

O ladrão ainda nos deixa com vida, se lhe passamos o dinheiro; os tais passionais, porém, nem estabelecem a alternativa: a bolsa ou a vida. Eles, não; matam logo.

Nós já tínhamos os maridos que matavam as esposas adúlteras; agora temos os noivos que matam as ex-noivas.

De resto, semelhantes cidadãos são idiotas. É de supor que, quem quer casar, deseje que a sua futura mulher venha para o tálamo conjugal com a máxima liberdade, com a melhor boa-vontade, sem coação de espécie alguma, com ardor até, com ânsia e grandes desejos; como é então que se castigam as moças que confessam não sentir mais pelos namorados amor ou coisa equivalente?

Todas as considerações que se possam fazer, tendentes a convencer os homens de que eles não tem sobre as mulheres domínio outro que não aquele que venha da afeição, não devem ser desprezadas.

Esse obsoleto domínio à valentona, do homem sobre a mulher, é coisa tão horrorosa, que enche de indignação.

O esquecimento de que elas são, como todos nós, sujeitas, a influências várias que fazem flutuar as suas inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os seus amores, é coisa tão estúpida, que, só entre selvagens deve ter existido.

Todos os experimentadores e observadores dos fatos morais têm mostrado a insanidade de generalizar a eternidade do amor. Pode existir, existe, mas, excepcionalmente; e exigi-la nas leis ou a cano de revólver, é um absurdo tão grande como querer impedir que o Sol varie a hora do seu nascimento.

Deixem as mulheres amar à vontade.

Não as matem, pelo amor de Deus!

Vida Urbana, 27-01-1915

O papel das famílias no seqüestro em Santo André

Há coisas que são difíceis de serem ditas. Há coisas que são cruéis demais para serem ditas, mas têm de ser. É muito penoso analisar os papéis das famílias dos envolvidos no seqüestro, porque eles foram os maiores, senão os únicos, realmente penalizados por tudo o que aconteceu. Como dizer aos pais de Eloá que o comportamento deles teve influência nesta tragédia? Espero que eles nunca leiam este texto, porque não quero, de modo algum, infligir-lhes mais sofrimento. Mas espero que todos os outros pais e mães (ou quem pretende um dia ser) leiam e reflitam sobre estas ponderações.

Na verdade, para podermos nos situar melhor, não convém pensar em um pai e uma mãe, em uma família apenas. Convém pensarmos nos valores de todas as famílias. Convém refletirmos sobre nossas próprias famílias. O caso particular da família de Eloá é que ela serviu de exemplo (muito triste) que nos ajuda a apurar os nossos próprios valores. A partir de uma tragédia particular, teremos um benefício coletivo. É, eu sei, um pensamento difícil de aceitar, mas temos de tirar lições para evitar que tal coisa se repita.

Aqui tenho que fazer um pequeno desvio. Não sou sociólogo, mas tenho aulas de ciências sociais. Numa aula aprendemos o porquê de a sociologia considerar o crime um fenômeno normal. Esta é uma afirmação que não é muito aceita pelo senso comum. As pessoas entendem que a ciência justifica os crimes, mas não é isso que ela faz. Para a sociologia, tão normal quanto existirem crimes nas sociedades é existirem punições para os criminosos. Mas, mais do que considerar normal, a ciência entende que existe utilidade no crime. Entender isso é ainda mais difícil do que entender que os crimes sejam fenômenos normais. Para compreender, não podemos nos basear apenas no senso comum e nas nossas primeiras impressões.

A sociologia entende que mesmo uma tragédia pode ser útil, porque ela nos ajuda a forjar e fortalecer aquilo que entendemos que é o justo e o certo. A nossa perplexidade diante de um crime fortalece em nós aquilo que consideramos um comportamento correto, põe à prova o nosso senso de certo e errado, aprimora e dá homogeneidade à nossa moral, sem a qual é impossível haver sociedade. De certa maneira, a partir do que é mau, descobrimos o que é bom.

Se todas as consciências individuais fossem iguais, não haveria o bem e o mal, o certo e o errado, o crime e o comportamento correto. Neste ponto é difícil não fazer um paralelo com a bíblia. Logo no primeiro livro, o de Gêneses, está escrito que o homem e a mulher que Deus criou pecaram ao comer a fruta da árvore do conhecimento do bem e do mal. A bíblia diz que nosso maior erro, o erro que nos separou de Deus, foi desobedecê-lo e buscar o conhecimento do bem e do mal, do que é bom e do que é mau, do que é crime e do que é retidão. Mas já me desviei o suficiente, voltemos ao foco.

Nossas famílias têm sido influenciadas por educadores liberais, por "progressistas", por "esquerdas modernas" que as incentivam a tratar seus filhos como adultos. Pais e mães entendem que têm de conversar e negociar com seus filhos, como se estes tivessem maturidade e discernimento suficientes para saber o que é certo e o que não é. É muito comum a expressão "ensinar a criança a fazer escolhas" e tem gente que leva isso tão ao pé da letra que acha que é da alçada da criança decisões que muitos adultos não tem capacidade de tomar.

Eloá começou a namorar Lindemberg quando tinha 12 anos de idade. Alguns questionam a diferença de idade entre eles, 7 anos, mas não vejo ninguém questionando o fato de que aos 12 anos nós somos crianças. Não nos cabe, aos 12 anos, firmar compromisso, ainda mais amorosos, com ninguém. Nossas crianças estão sendo tratadas como adultos - tudo com a anuência de 'especialistas' e defensores do 'bem' - e ai de quem ousar dizer que isso é errado. Será tratado por "careta", reacionário, conservador, antiquado, burro mesmo. 

Eloá é só um exemplo. Existem milhões de meninas e meninos que antes do tempo adequado se encontram na posição de adultos. Um tanto se deve à moda: as crianças querem ser como todas as outras e, como este pensamento torto nos dominou, o anormal é uma pessoa de pouca idade ter comportamento de criança; normal é "namorar firme", com aliança e tudo, ter vida sexual ativa e "discutir a relação" com seu parceiro. Outro tanto deste fato se deve ao pensamento que nos é enfiado goela abaixo de que temos de "ser modernos", que temos de fugir das tradições, que temos de "negociar" com nossos filhos, que não devemos usar de autoridade, mas antes "convencer" as crianças do que seja o comportamento correto. 

Para exemplificar (lá vou eu em minha batalha já declarada contra a Record). Ontem eu vi um comercial onde uma menina de 14 anos, com a imagem devidamente embaçada para não ferir o Estatuto da Criança e do Adolescente (vejam que coisa hipócrita), dizia que pegou AIDS porque não usou camisinha em suas relações sexuais. Uma menina de 14 anos! Eu não acredito que ninguém veja nada de errado nisso. Caberia um comercial dizendo para as meninas de 14 anos que elas NÃO PRECISAM TER SEXO apenas porque todo mundo diz que assim deve ser. Que elas podem ser crianças, que podem se preocupar com coisas de criança e não em usar camisinha para não pegar AIDS. Por que tratamos crianças como adultos? Por que sexualizamos nossas crianças? Por que toleramos que pessoas irresponsáveis ditem como devemos cuidar de nossos filhos?

Cabe a nós não aceitar mais essa imposição "progressista" inconseqüente e irresponsável. Cabe pensarmos no que é realmente o melhor para nossos filhos, para nossas crianças. Cabe defendermos nossa infância de verdadeiros "lobos maus" disfarçados de cordeiros cultos e modernos que têm respostas sobre como devemos cuidar de nossos filhos, mas nunca assumem responsabilidade pelas tragédias causadas por estas respostas. As conseqüências são: adultos desequilibrados gerados por uma infância doentia; meninas de 12, 13, 14, 15, 16, 17 anos grávidas, com vários filhos, com "famílias" improvisadas com rapazes que não sabem cuidar nem de um cachorro de estimação, quanto mais de um filho; exagero dos sentimentos, próprios da infância e da adolescência, que levam a crimes, agressões, traumas, violências de toda sorte.

Que fique claro: não estou culpando os pais de Eloá pela tragédia. O culpado único é Lindemberg que deve ser punido por isso. Mas cabe a nós tentar extrair lições úteis desta tragédia. Uma, na verdade a maior de todas, é de que temos obrigação de rever nossos valores e proporcionar uma proteção real e efetiva para nossas crianças.

domingo, 19 de outubro de 2008

A ética da TV Record

Aumenta a minha indignação com a TV.

Alguns vão pensar que estou pegando no pé da Record, já que citei um programa desta emissora no post "O papel das TVs no seqüestro em Santo André". Mas não tem como não citar sua falta de ética e de seriedade. Aliás, penso mesmo que é preciso combater a falta de ética e seriedade desta emissora.

Agora há pouco, no programa "Domingo espetacular", o apresentador Reinaldo Gotino, falando sobre o caso do seqüestro, "deu com exclusividade" (eles adoram falar em 'exclusividade') a notícia de que houve um estampido, um som de tiro, logo antes da invasão do apartamento pelo GATE. Isso é exatamente o que a polícia havia dito, ou seja, que o rapaz Lindemberg disparou um tiro e, por isso, a equipe teve de invadir, sendo, inclusive, pega de surpresa por este disparo. A frase dele foi: "[...] e isso é muito estranho, porque vai ao encontro do que disse a polícia". Juro que ouvi isso. Torço para ter ouvido errado. Se alguém puder provar que estou errado, agradeço.

Perceberam o que ele disse? Segundo ele, o estampido logo antes da invasão é uma coisa estranha, porque comprova que a polícia disse a verdade. Ora, então depreendo que o comum é que a polícia minta. É asqueroso, é indigno, é imoral este pensamento. Isso é uma falta de respeito com a Polícia Militar de SP que tem dado provas e mais provas de seriedade, de comprometimento, de responsabilidade. Há anos, o estado caminha para uma situação cada vez mais segura, comprovada por números. 

Neste caso particular, o GATE agiu da maneira mais técnica e mais profissional possível; tentou até o último momento preservar as vidas de todos; entrou na linha de tiro, arriscando a vida dos agentes, quando invadiu o apartamento; tem demonstrado transparência total em todo o processo dando entrevistas a todos quanto solicitam, respondendo a todas os questionamentos claramente, divulgando imagens e áudios gravadas pela própria polícia. Os erros da operação não devem ser usados para demonizar a força pública. Antes, ao contrário, devem servir para aprimorá-la. Estes homens que estão sendo desrespeitados em rede nacional são os que arriscam suas vidas para defender as nossas.

Esta não foi a primeira demonstração deste pensamento torto que, aparentemente, prevalece dentro da emissora. Desde o começo desse caso, a postura da empresa é de "criar polêmica", não apenas sobre as ações da polícia, mas sobre as ações do Estado, representado ali pelo GATE da Polícia Militar de SP. Poderia citar muitos exemplos, mas um apenas talvez represente bem o que penso: numa entrevista com os médicos que atenderam as meninas, a pergunta do repórter foi "se havia sinais de balas de borracha nos corpos delas". Aparentemente, eles não se conformam à idéia de que não foi a polícia que atirou nas garotas.

A Record demonstra que não tem compromisso com a verdade, mas com sua obstinação de "provar o erro da polícia", "demonstrar o despreparo dos agentes" e "provar que as coisas deveriam ser feitas de outra forma". Aliás, a emissora faz isso constantemente já há bastante tempo, não apenas neste caso. Há muito tempo esta emissora, que é concessionária pública, tenta "doutrinar" o público e incentivar a desarmonia social colocando população contra Estado.

sábado, 18 de outubro de 2008

O papel das TVs no seqüestro em Santo André

Há muito tempo a postura de muitas emissoras de televisão causa náuseas em muita gente. Em mim, causa mais que náuseas, causa indignação. Este caso trágico do seqüestro de Eloá e Nayara por parte de Lindemberg Alves serve de exemplo claro do porquê as emissoras, 'jornalistas' e apresentadores da TV brasileira são uma das piores influências sobre a população.

A TV brasileira tratou este caso como um show, como uma novela real apresentada à população em tempo integral. Eu chego a dizer que muitos 'profissionais' da TV torciam ardentemente por novos lances de impacto para poder apresentá-los em suas 'reportagens exclusivas'. Não digo que torcessem pela morte das meninas, isto não me passa pela cabeça (ainda), mas que torciam por lances semelhantes ao pedido de comida feito pelo sequestrador e que seria para namorada. Segundo ele, a menina não podia se alimentar com besteiras e precisava de uma alimentação de qualidade. A TV glamorisou esse fato e transformou o seqüestrador em 'apenas um romântico', um garoto transtornado por amor, mas que se preocupava em cuidar de seu objeto de adoração.

Após o Lindemberg romântico, apareceu o Lindemberg super star. Os programas 'voltados à família' e os policialescos resolveram dar voz ao seqüestrador. Houve até entrevista com o rapaz, inclusive a já infame entrevista ao vivo à Sonia Abrão. Essa exposição fez Lindemberg se sentir mais  poderoso do que já se sentia, chegando a proferir ameaça contra a ação da polícia do tipo "se eles fizerem besteira, eu acabo com tudo". Se proliferaram as rodas de 'especialistas' discutindo as ações do seqüestrador, das vítimas, da polícia. Curiosamente, nenhuma roda discutia o papel da imprensa e da TV. Ninguém disse, exceto, quem diria?, Jóse Datena da Bandeirantes (embora ele também faça parte do grupo), que esta exposição massiva do caso atrapalhou muito a solução pacífica deste conflito. Ninguém discutiu formas de colocar a TV para ajudar a salvar as vidas das meninas. Em contrapartida, não faltaram e não faltam jornalistas de meia-pataca, especialistas que nunca estiveram numa situação de risco e apresentadores que 'têm a solução pra tudo e estão sempre certos' criticando duramente a polícia.

Eu poderia citar várias emissoras e vários programas que negligenciaram suas responsabilidades. Poderia também citar muitos exemplos na Internet, com vídeos, reportagens escritas e comentários em blogs. Mas eu quero que este texto seja lido, então não convém que ele se estenda demais. Vou me concentrar em um caso: o programa "Hoje em dia" da rede Record.

Hoje, este programa apresentou uma de suas famosas rodas com especialistas. Fora o cel. aposentado José Vicente, nenhum tinha experiência real neste tipo de caso. Mas todos 'sabiam' o que tinha de ser feito. Todos tinham as respostas certas para todos os problemas do caso. Quase todos reprovavam a polícia e diziam como deveria ter sido feita a operação. O cel. foi o único que, ponderadamente, disse que fazer considerações longe do problema e confortavelmente instalado é muito fácil.

Entre uma pergunta e outra, quase todas incitando o confronto com a polícia, o apresentador Brito Jr. parava a conversa, sempre com frases como: "Esta questão é muito importante para o entendimento deste caso, mas o sr. responde depois do recadinho da Cris e do Edu". Aí entravam a Cris e o Edu sorridentes fazendo a propaganda de algum dos patrocinadores. Para mim, esta situação é surreal: um programa que, como outros, tem responsabilidade direta no desfecho do caso em que duas meninas foram feridas, uma, infelizmente, num estado que apenas um milagre a pode livrar; incitando a população contra a polícia; dando voz a 'especialistas' que, como disse Reinaldo Azevedo, nunca libertaram um passarinho de uma gaiola; e faturando, literalmente, com este circo de horrores. Me angustia, me embrulha o estômago e me dá nó na garganta esta situação absurda.

Este é apenas um exemplo de muitos. Caberiam vários textos e várias reflexões sobre o papel destas empresas na sociedade brasileira. Cabe a nós refletir de fato sobre isso, gastar tempo pensando e definir o que é ser ético em meio a esta enxurrada de mediocridade, irresponsabilidade e desprezo pelas desgraças alheias.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Gente idiota

Se tem uma coisa que a civilização deveria abominar e banir são pessoas que manipulam a verdade e insuflam as massas para atingir objetivos pessoais (como disse no post "O pior dos preconceitos"). Mas tem outra coisa que chega a ser tão abominável quanto, se não mais, que são as pessoas esclarecidas se deixarem manipular feito idiotas. Que uma pessoa ignorante seja manipulável é coisa triste, mas compreensível, já que estas pessoas não se emanciparam e não são muito mais que "animais humanos em estado natural". Mas pessoas que estudaram, que demonstram ter conhecimento, se deixarem manipular é inadmissível. 

Vejam o exemplo do conflito entre sindicalistas e policiais civis de um lado e policiais militares de SP de outro. Tem gente na Internet postando comentários e defendendo o 'movimento' dos policiais civis (que não representa os policiais civis como nenhum outro 'movimento' ou sindicato representa suas categorias; falarei sobre isso em outro texto). E não se trata de gente ignóbil. São pessoas que demonstram capacidade de articulação, citam 'pensadores' e tal. Tais comentaristas alegam que os policiais civis e os sindicalistas estão certos por três motivos:

  1. O salário dos policiais é muito baixo;

  2. O governo, segundo alegam, se nega a negociar; e

  3. Os governos tucanos (FHC, Covas, Alckmin, Serra) arrocham os salários de servidores públicos.

Isso tudo é tão aborrecidamente medíocre que altera o meu humor ter de escrever a respeito, mas vamos lá:

  1. O salário ser baixo dá direito a policiais, ou a quem quer que seja, de passar por cima da lei? Não, porque existe lei (ainda e graças a Deus) para ser cumprida. Se o que é 'certo' fosse determinado de acordo com a percepção classista dos fatos, não haveria motivo para existirem leis. Esse argumento é um exemplo acabado do que o Reinaldo Azevedo tanto combate em seu blog: o 'direito achado na rua'. Segundo esta 'corrente do direito', o jurídico não pode se sobrepor ao 'legítimo'. Logo, se os policiais acham legítimo (e de fato é) ter salários melhores e o governo diz que não tem como pagar o que eles querem, podem, então, passar por cima da lei, fazer manifestação no entorno do palácio dos Bandeirantes (o que é ilegal), usar equipamentos públicos e, absurdamente, até armas para 'reforçar' sua manifestação. Não precisamos ser legalistas, o próprio bom senso já diria que isso é um absurdo. A polícia não pode se insubordinar contra o poder constituído democraticamente, não pode chantagear o governador e, principalmente, não pode usar equipamentos e ARMAS em 'defesa' de interesses próprios;

  2. Sobre a negociação por parte do governo, antes de qualquer coisa, isso é mentira: o governo tem negociado e foi amplamente divulgada na imprensa já há dias a proposta do estado. Ocorre que, obviamente, a proposta fica aquém do desejo dos policiais. Mas, ainda que o governo não negociasse, teriam 'direito' os policiais civis de agir da maneira que agiram? Novamente 'o direito achado na rua'. Este argumento de intransigência do governo serve apenas ao propósito político de enfraquecer José Serra, o PSDB e os Democratas. Não resiste à verdade mais elementar que é: não interessa se o governo negocia ou não, esta ação dos baderneiros não tem justificativa legal, nem moral, nem lógica. Repito: policiais não podem usar armas em defesa de interesses próprios, não podem chantagear o governador e não podem desafiar o poder constituído democraticamente;

  3. Sobre arrochos, novamente o jogo político rasteiro. Acho que este pessoal imagina o FHC conversando com Serra nos seguintes termos: "vamos dar aumento pros funcionários públicos?", pergunta um; "não, eles não merecem" responde o outro; "é verdade, não merecem mesmo, a gente até poderia ser bonzinho, mas este povo merece é chibatada", retruca o primeiro. É ridículo este argumento. O governo não concede reajustes porque não tem como. Ou alguém imagina que Serra entrou neste imbróglio por pirraça? Aliás, é esta firmeza na administração do recurso público que hoje permite ao Brasil estar numa condição econômica e social melhor que antes. Ademais, por mais baixo que sejam os salários, não são 'de fome'. Ninguém está morrendo de fome, até porque os salários são, no mínimo, dentro da média dos trabalhadores e ninguém corre o risco de ser mandado embora, como ocorre com nós outros pobres trabalhadores. Por último, ninguém é escravo do estado. Qualquer um pode repensar sua carreira, sair da polícia e do serviço público, buscar outras ocupações. Novamente, nós, outros pobres trabalhadores, fazemos isso o tempo todo.

A minha maior pergunta é: como gente esclarecida, estudada, letrada, se deixa manipular tão facilmente? A coisa é tão forte que parece automático e óbvio o 'lado certo' na cabeça destes idiotas. Se alguém tiver outro argumento para defender esta balburdia, que não os três que citei anteriormente, que os apresente e, se forem sérios, os terei não como idiotas, mas como gente sensata. Mas se os únicos argumentos são os acima, pra mim, são pessoas sem juízo algum (que é o que idiota significa).

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Os policiais militares de SP

Quem me conhece sabe que eu não sou de admirar alguém facilmente. Para merecer a minha admiração não basta fazer algo de diferente, tem que passar por uma série de requisitos.

Na minha lista de admirados constam: os médicos, que salvam vidas; os bombeiros, que arriscam suas vidas sem hesitar para salvar vidas; e os policiais, que também arriscam suas vidas para ... salvar vidas. Vejam que dou muito valor a quem dá valor às vidas das outras pessoas. Seria quase desnecessário explicar que não incluo nesta lista os maus médicos, os maus bombeiros e os maus policiais (os baderneiros da polícia civil que tentaram invadir o palácio dos Bandeirantes, por exemplo). Não estou interessado em indivíduos, mas no grupo, na entidade, nas instituições: médicos, bombeiros e policiais.

O senso comum prega que policiais não são admiráveis. Se perguntar às pessoas comuns elas dirão que policiais não são para se admirar, mas, ao contrário, para se olhar com desconfiança. É um fato social tanto entre pobres quanto entre ricos, entre ignorantes e entre letrados. Eu, como não me considero exatamente 'comum', fujo desta imposição social e digo claramente que admiro, sim, os homens da lei.

Uma outra característica minha é ser um pouco apático em relação a coisas que despertam nas pessoas comuns os mais profundos sentimentos. Mas, em compensação, coisas que para a maioria não querem dizer nada, para mim representam muito. As sutililezas, os detalhes e o 'oculto-ainda-que-revelado' mexem comigo. 

Nesta bagunça promovida por 'lideranças políticas' (me dá coisas chamar esta gente de liderança) entre policiais civis e militares, uma imagem despertou em mim um destes sentimentos muito particulares e me fez admirar ainda mais os policiais militares de SP. A reportagem do SBT sobre o fato mostrou que muitos policiais militares foram chamados ao palácio dos Bandeirantes para reforçar a segurança. O repórter dizia que muitos nunca tinham entrado no palácio quando apareceu a imagem de um grupo de policiais - acho que quatro - andando numa das enormes e bem adornadas salas, demonstrando admiração. Então todos pegaram seus celulares e começaram a tirar fotos.

Nesta hora, várias imagens me vieram à mente: lembrei que estes policiais ganham muito mal, que têm famílias, que têm sonhos, que entram para a polícia com planos para melhorar de vida, que são militares e têm de obedecer ordens sem questionar, que arriscam suas vidas por gente desconhecida, ingrata e que não os admira..., mas, ali, eram apenas servidores da população - no melhor sentido desta expressão -, humildes, cumprindo a ordem de defender o governo e o governador, seu chefe maior numa hierarquia que eles conhecem bem e respeitam, encantados com um lugar que não faz parte de suas vidas, que está distante de suas realidades. Eles têm demandas como todos nós: também querem salários maiores, vales-refeição maiores, condições melhores, vidas melhores. Mas estavam ali, como peças fiéis e confiáveis numa engrenagem social cada vez mais deturpada; estavam ali cumprindo com seus deveres de maneira responsável, simples e bonita. Estavam encantados com a beleza do palácio, tirando fotos que, provavelmente, mostrarão aos filhos e dirão: olha, o papai foi na casa do governador.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O pior dos preconceitos

Eu não confio em que diz não ter preconceitos. Estes são, talvez, os que mais têm. Ter preconceitos não implica, necessariamente, ser preconceituoso e aí reside o segredo de bem viver: usar da razão que todos temos (embora alguns pareçam não ter) para domar nossos preconceitos. É natural nós acharmos os nossos filhos mais lindos e, por que não?, melhores que as outras crianças. Mas isso não justifica tratarmos os filhos de outros de maneira pior do que tratamos os nossos. Ao contrário, quando uma pessoa normal (é bom que se diga) tem a responsabilidade de cuidar de várias crianças, inclusive de seus próprios filhos, geralmente se esforça para tratar todas igualmente. Muita vez se esforça tanto para demonstrar carinho e atenção  com todas as crianças que exagera e causa o protesto dos próprios filhos: "comigo você não é assim".

Este mesmo raciocínio vale para coisas mais supérfluas, como a escola que estudamos, os produtos das marcas que gostamos e o time para o qual torcemos; mas vale também para coisas mais importantes, como nossos relacionamentos com pessoas de outras cidades, outras regiões, outros países, outras culturas, outras cores, outros credos, outros valores. Nossos valores sempre serão melhores aos nossos olhos que os valores dos outros e estes outros pensarão o mesmo a respeito de seus próprios valores. Se todos extravasassem seus preconceitos, o mundo viveria constantemente em guerra.

Eu tenho pra mim que quem acredita, honestamente, não ter preconceitos ou engana-se a si próprio ou nunca de fato se observou friamente o suficiente para se conhecer de maneira verdadeira. Quando uma pessoa alega não ter preconceitos, geralmente quer dizer que sua razão é mais forte que eles e que consegue domá-los.

Este preconceito natural faz parte de nós e nossa razão deve ser capaz de dominá-lo para podermos viver em paz com nossos semelhantes. Mas existe outra espécie de preconceito: o artificial. Neste caso, ao invés de colocarmos nossa razão para dominar preconceitos, colocamo-la para criá-los. Este preconceito nos serve atendendo às nossas conveniências, às nossas vontades, à nossa estultice.

Este é um artifício terrível. Acredito mesmo que seja o mais terrível artifício humano. Veja o que Hitler e Goebbels conseguiram fazer se valendo dele: a partir de um preconceito natural, que todos têm contra culturas diferentes de suas próprias, eles 'justificaram' o maior genocídio da história. Isso parece tão distante, mas faz apenas 63 anos que a Segunda Guerra terminou. Na Alemanha de 70 anos atrás, pessoas que uma vez conviveram harmoniosamente como vizinhos, em poucos anos estavam odiando e sendo odiadas, estavam matando e morrendo.

Mas por que falo de preconceitos, nazistas, genocídio? Porque esta praga não está extinta. Ou melhor, o nazismo está extinto, genocídios sempre podem voltar a ocorrer, mas o que me faz escrever e o que defendo que não está extinto é o que está por trás de tudo isso, sua essência: a capacidade humana de usar de artifícios tão imorais como a insuflação de preconceitos nas massas para atingir objetivos pessoais, para conquistar o poder.

A partir deste ponto, alguns chiarão: "como ousa comparar Marta com Hitler?". Não estou comparando as obras dos dois, mas o caráter: ambos são capazes de mandar a ética pro brejo e incitar o que há de pior nas pessoas para conquistar o poder. 

Vejam o que a campanha de Marta Suplicy resolveu fazer em São Paulo: publicar inserções no rádio e na televisão questionando a masculinidade do prefeito e também candidato Gilberto Kassab e distribuir panfletos o acusando de "tentar derrubar o presidente Lula", "querer acabar com programas sociais do governo", "espalhar o ódio" e "diminuir o pré-natal de mulheres negras, causando aumento da mortalidade materna". A intenção é clara feito o dia: incitar o preconceito natural de heterossexuais contra homossexuais e atrelar Kassab a este último grupo que, por ser minoria, faria com que ele mais perdesse do que ganhasse votos; e atiçar o preconceito natural de pobres e negros contra um Kassab "mal feito um pica-pau", que não gosta de negros e quer acabar com os pobres. 

Marta Suplicy disse que não tem nada a ver com isso e que isso é responsabilidade do marqueteiro. Ao menos a mim, me ofende profundamente esta postura. Como não tem nada com isso? É claro que tem. Estas ações foram tão feias, tão deploráveis, que ninguém, nem do partido de Marta, se manifestou publicamente para defendê-las. Mas é aí que fica o 'pulo do gato': Marta e os dirigentes da campanha sabiam que estas coisas teriam repercussão negativa entre os 'mais esclarecidos', mas a aposta deles é nos 'menos esclarecidos' (é difícil escrever isso; como definir quem é mais esclarecido e quem é menos?, mas creio que me fiz entender). De fato, muitos apoiadores de Marta mais exaltados compraram a idéia e teve quem ofendesse eleitores de Kassab dizendo: "Kassab é viado, vocês vão votar num viado?".

Como se vê - para quem quer realmente ver -,  a essência humana continua a mesma de sempre. Por isso temos que ter atenção redobrada com qualquer possibilidade de se criar preconceitos artificiais e temos, sim, que combater veementemente estes absurdos. A eleição de Marta em SP, mais do que um atraso ideológico, seria uma atraso moral.