sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Por que o aborto é condenável

Navegando por aí, acabei conhecendo o blog Imaginalismo (imaginalismo.blogspot.com) e lá encontrei um texto interessante de título "Aborto NÃO tem nada a ver com religião". Nele a autora sintetiza bem os argumentos de quem apóia o aborto e, analisando-os, defende que não são válidos - ou não válidos o suficiente - para justificá-lo; raciocínio com o qual eu concordo totalmente.

Mesmo concordando com a autora, acredito que pensamos de maneira igual por motivos diferentes. Ou talvez pelos mesmos motivos, mas com diferentes profundidades nos pensamentos de cada um.

Fiz um comentário no blog que refaço aqui de maneira mais completa.

Muitos que defendem o aborto dizem que este seria um "direito natural" da mulher. Se pensarmos apenas por este prisma, ou seja, do ponto de vista do "direito natural", de fato a mulher tem esta liberdade: se uma mulher quiser, em sua casa e longe das vistas de outras pessoas, abortar, quem a impedirá? Do mesmo modo que ninguém impedirá uma pessoa de matar uma outra, se esta primeira agir sorrateiramente.

O conceito de direito natural usado aqui está ligado à idéia de liberdade. Liberdade irrestrita (parece pleonasmo, mas não é) seria o direito natural de todo homem. Todo homem teria direito de fazer todas as coisas; logo, um homem poderia matar qualquer outro, mas, como conseqüência, se arriscaria a ser morto por qualquer outro homem. A essência por trás deste conceito é simples: se não existe uma lei superior a todos os homens e que a todos governe, então cada homem define o que é bom e o que não é; todas as coisas serão lícitas e legítimas.

De modo semelhante, no que tange à idéia de "natural", muitos que combatem o aborto dizem que ele vai contra a natureza. Advogam, pois, o contrário dos primeiros: a mulher não pode abortar porque isso não é natural.

Nos dois casos, o que não lhes ocorre é que o Homem não é exatamente um ser natural. Se fossêmos estritamente naturais, viveríamos em bandos, moraríamos em cavernas ou seríamos nômades. Nós somos seres sociais e, conseqüentemente, morais. O aborto não é condenável ou aceitável por ser natural ou contrário à natureza. Ele é aceitável ou não de acordo com nossa hegemonia moral.

O nosso conceito atual de liberdade não se confunde com aquele do direito natural. Antes nossa liberdade atual está limitada, como um rio que não consegue ultrapassar suas margens. Temos pontos onde nossa liberdade, nosso direito natural, cessa e dá lugar a coisas que regulam nossas relações, a saber: a moralidade e o Direito. 

Também nossa vida moderna não é guiada pelo que é natural. Aliás, se assim fosse, seria mais fácil justificar o aborto do que combatê-lo: não é difícil encontrar exemplos na natureza de animais que abandonam suas crias ou mesmo que forçam o aborto de fêmeas cuja gravidez poria em risco a sobrevivência do grupo. Não existe moralidade na natureza.

Logo, o aborto não se nos apresenta como uma questão natural, mas moral. Nisso, e estritamente nisso, reside minha crítica à defesa desta prática. Quem defende a idéia de aborto faz uma apologia ao relativismo moral, ou seja, algumas coisas são aceitáveis na medida das conveniências de um grupo. A se supor isso como verdade, poderíamos um dia defender o extermínio de deficientes mentais com a mesma facilidade que defendemos o aborto. O que define o que pode ser descartado e o que não pode? Quem me garante que um dia a hegemonia moral não dirá que eu possa ser descartado?

Alguns dirão que não se trata de exterminar ninguém, uma vez que o "material descartado" não constituiria ainda uma pessoa. Aqui uso o mesmo argumento da autora do Imaginalismo: e quem define o que constitui uma pessoa? Alguns dirão que a resposta cabe à Ciência, mas se enganam, pois esta também é uma questão moral. Vejam que não foi difícil aos nazistas definir que judeus não eram exatamente seres humanos.

Por tudo o que apresento acima, entendo que, ao não defender o aborto, eu defendo a minha própria vida. Se relativizarmos nossa moral, que é eficiente no que tange ao direito à vida, abriremos brechas para que um dia tal relativização se volte contra nós mesmos. Moralmente eu escolho que todas as vidas devem ser preservadas ao máximo e da melhor maneira possível, inclusive a minha.

Um comentário:

D disse...

Bravo Moacyr! Obrigada pela visita, volte sempre, vou te linkar!

Abraço.
D

www.imaginalismo.blogspot.com